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24/04/2021

ACHEGAS PARA A HISTÓRIA MOURANENSE "CELULOSES DO GUADIANA"


 Achegas para a história Mouranense

MEMORIAL DE UMA GRANDE INDÚSTRIA
no concelho de Mourão
CELULOSES DO GUADIANA

Em meados do século XX, no início da mecanização agrícola e numa época de grande produção de trigo em todo o Alentejo (considerado o celeiro da nação), um grupo de agricultores de Évora, grandes produtores de trigo, teve conhecimento de que em Inglaterra e em França, se tinha desenvolvido uma tecnologia que permitia a utilização da palha de trigo como matéria-prima no fabrico de papel, dado o teor de celulose naquele material. Estes agricultores abastados, acreditaram que a indústria de celulose, era uma ótima oportunidade para expansão dos seus negócios, e aproveitamento do excesso de produção de palha. Uniram esforços, e decidiram construir uma fábrica em Mourão, na margem esquerda do Guadiana, devido ao facto de o fabrico de papel exigir muita água. Localizada junto à estrada e à antiga ponte, distante de Mourão cerca de uma légua.
O estudo e projeto foi da firma Profabril, e as obras de construção civil foram executadas pela firma Álvaro Ribeiro, utilizando muita mão de obra da região.os equipamentos foram fornecidos e montados pelas firmas inglesas millspaugh co, para o fabrico de papel e thrissel engineering para a produção de cartão e caixas de cartão canelado.
Estava então criada a firma CELULOSES DO GUADIANA, SARL. Equipada com moderna tecnologia, inserida numa região profundamente rural e sem gente com quaisquer conhecimentos técnicos ou experiencia no ramo, teve que contratar alguns ex-colaboradores da fábrica de Mitrena para que a fábrica começa-se a produzir em 1955.
Todavia a falta experiência da administração neste tipo de atividade, conduziu a rapidamente a empresa a uma crise, que levou à intervenção da COMPANHIA UNIÃO FABRIL (CUF) que uma após uma auditoria técnica ao equipamento, concluiu pela viabilidade da empresa e a adquiriu tendo em seguida contratado pessoal especializado.
Sabe-se que, António Caeiro Lopes, um grande agricultor mouranense, dono das herdades: Ferrarias, Canceres, Tapadinha etc. era o presidente da câmara de M

ourão (1949-1957) quando esta fábrica foi construída o seu concelho. Presumo que teve que enfrentar as reações e os protestos de alguns agrários locais, temendo que a mesma pudesse absorver muita mão obra, necessária às faunas do campo e isso pudesse vir a desestabilizar o regime de horários e o valor das “jornas” que, naquele tempo, o regime de horários e valor das jornas se espelham na seguinte citação:
«Se me lembro! Fiz duas "Máquinas, com se dizia" Uma como Alcofeiro (16$00 de sol a sol), e a segunda, ao Fagulheiro, tendo como mestre o Zé Lobo, (21$00 também de sol a sol, mas o patrão só pagava 20$00. Os outros dez tostões, para segurar o pessoal, só os pagava no fim da faina. Quem abalasse perdia-os. Infelizmente era assim. E quem levantasse a voz...é melhor nem falar».-In facebock-Francisco Manuel Neves Jordão .
No entanto, dado que a maioria dos clientes se situava acima da bacia do vale Tejo, o custo da era muito afetado pelos elevados custos de transporte a empresa optou por uma nova fabrica na zona de Lisboa, transferindo as máquinas de fabrico de cartão e o embalagens e respectivo pessoal afeto para a nova fábrica , que passou a designar-se Unidade fabril de Albarraque (1966) , situada no concelho de Sintra. Recordo que já nesta época o futuro desta fábrica em Mourão estava ameaçado pela construção da barragem do Alqueva, o que motivou a opção de algum pessoal técnico e operário se ter deslocado para Albarraque, ( eu em 1973). Tendo outros, preferido emigrar para o estrangeiro: França, Alemanha e Suissa.
O negócio continuou a expandir-se e em 1969, iniciou-se a construção de outra nova fábrica de embalagens, no lugar de Gilhabreu, no concelho de Vila do Conde, que passou a designar-se Unidade Fabril de Guilhabreu. A fábrica Mourão fabricava os papeis para estas duas unidades Fabris. Seguiram-se os melhores anos da empresa CELULOSES DO GUADIANA, que chegou a e ser a mais rentável do grupo CUF. PORTUCEL
Após o 25 de Abril de 1974, um dos sectores nacionalizados foi a indústria de celulose, na qual se incluía a empresa CELULOSES DO GUADIANA. Que foi incorporada no grupo PORTUCEL, A fábrica de papel em Mourão passou a ser designada PORTUCEL RECICLA, e as de Albarraque e de Guilhabreu PORTUCEL EMBALAGEM.
A fábrica de Mourão, principal entidade empregadora no concelho, que desde 1954 existiu quase sempre sob a ameaça de Alqueva passou a ser real, quando a Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/96, do Governo chefiado por Cavaco Silva assume "avançar inequivocamente com o projeto" com ou sem financiamento comunitário acabou por ser totalmente desmantelada, a troco de promessas vãs, no final do século e o seu local submerso pelas águas do grande lago, por decisão do governo central.
A desmontagem de todos os equipamentos e desmantelamento edifícios, a limpeza dos resíduos que no local foram acumulados, ao longo dos 45 anos de atividade da unidade fabril, cerca de 150 mil metros cúbicos de resíduos industriais, a maior parte derivados do processo de fabricação de papel, e perto de 40 mil toneladas de lamas. e a descontaminação dos solos da unidade industrial, situada abaixo da cota do primeiro enchimento, ficou a cargo do consórcio CME/SETH. A operação foi orçamentada em 3 milhões de contos. Segundo Adérito Serrão «Com Alqueva encontrámos um pretexto para sanear do ponto de vista ambiental uma zona que está com uma carga poluente significativa, não compatível com os usos da futura albufeira nem com os do rio Guadiana»,.
Os equipamentos da fábrica foram alienados a «uma empresa tunisina», por um valor «inferior a 750 mil contos».
O desmantelamento e encerramento da unidade da Portucel Recicla (antiga CELULOSES DO GUADIANA) foi contestado a nível local, pelos trabalhadores da empresa, que chegaram a realizar um protesto à entrada da fábrica, mas também pelos autarcas de Reguengos de Monsaraz e de Mourão, Vítor Martelo e Santinha Lopes, respetivamente.
Texto: FRANCISCO CAPELAS
fonte: sit- Edia

22/03/2021

Achegas para a história Mouranense (História e memórias das Festas Pascais)

 

Achegas para a história Mouranense

PASSOS DO SENHOR












A génese da cristandade Mouranense remonta a data anterior a sua integração na nacionalidade portuguesa, quando do seu repovoamento cristão pela ordem dos Hospitalários (1226).

Mourão é um concelho de antigas e fortes tradições religiosas. O testemunho material desta religiosidade não se encontra apenas na quantidade de igrejas e capelas, mas também em alguns nichos de cariz religioso existentes nas ruas históricas da vila, denominados “Passos do Senhor”. Estes pequenos nichos nas paredes estão diretamente vinculados às cerimónias da Semana Santa e à Procissão do Senhor dos Passos e foram construídos por iniciativa da Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos,(irmãos da misericórdia) num período de forte impulso político/religioso dominado pelos fidalgos da terra, cavaleiros da Ordem de Cristo, e também Familiares do Santo ofício, interessados no restauro do prestígio, e recuperação da influência e poder da igreja nesta região fronteiriça sob o seu domínio. Sem esquecer os graves problemas que amarguraram a vida do povo (pestes, epidemias, guerras, crises religiosas, etc.), a celebração do mistério pascal, constitui ainda hoje o cerne do culto religioso do cristão Mouranense.

Segundo a doutrina firmemente transmitida pela Igreja, a Páscoa começa na quarta-feira de Cinzas, quando se inicia a Quaresma; esta dura quarenta dias, os quais são destinados à penitência, oração, jejum e, principalmente, conversão.

As antigas tradições, em Mourão, durante a Quaresma, não são proferidas "aleluias" e não se come carne (a não ser que se pague a gula).

Na zona histórica da vila existem ainda quatro nichos, havendo um datado de 1669.

De acordo com a inscrição na Rua do Benquerer existem 7 Passos: Rua do Benquerer, Ermida de N- Srª dos Remédios, Rua Joaquim José Vasconcelos Gusmão, Rua Dr. Libânio Esquível e Rua Machado dos Santos. Os do Pretório e do Calvário situam-se nas Igrejas de S. Francisco e da Misericórdia. Estes nichos na sexta-feira Santa, são enfeitados pela população com rosas e flores, folhas de palmeira, e rosmaninho e no seu interior eram colocados quadros pintados a óleo representando os passos e o sofrimento de Cristo a caminho calvário, sendo os mesmos retirados e guardados no final da procissão do senhor dos Passos.

Atualmente, estes nichos encontram-se enriquecidos de forma permanente com a aplicação de painéis de azulejos da autoria do Mouranense artista cerâmico António Palmira.

"Texto: FRANCISCO CAPELAS"

"Fotos: Net- Google Heart"






PROCISSÔES DA PÁSCOA

Procissões (Domingo de Ramos e Enterro do Senhor na 6ª feira Santa)

O Domingo de Ramos abre solenemente a Semana Santa. Em Mourão, nesse dia de manhã os fiéis dirigem-se para a Igreja Matriz com raminhos na mão para serem benzidos e à tarde realiza-se a Procissão da Via Sacra e Crucificação de Cristo.

Na noite da sexta-feira Santa ou sexta-feira da Paixão realiza-se a Procissão do Enterro do Senhor.

Ambas as procissões saem da Igreja da Misericórdia num percurso que passa e para nas 5 estações do Passo do Senhor. No domingo de Ramos os Passos estão adornados com alfaias de veneração para a Procissão da Via Sacra e da Crucificação. No dia da Procissão do Enterro do Senhor, realizada na 6.ª feira Santa à noite, apesar de não se apresentarem adornados, são locais de paragem da procissão, frente aos quais a Boa Mulher e as três Marias entoam os seus cânticos em latim.

Modestas estações da venerável Irmandade do Senhor dos Passos, construídas em xisto nos finais do século XVII, após os sacrifícios impostos pela Guerra da Independência. Distribuem-se segundo o itinerário tradicional da procissão realizada anualmente.

"Quem passou pelo rosmaninho e não cheirou, da Paixão de Jesus Cristo não se lembrou".

"Compilado de: Junta de Freguesia de Mourão"






15/03/2021

MONUMENTOS HISTÓRICOS CASTELO DE MOURÃO

 MONUMENTOS HISTÓRICOS CASTELO DE MOURÃO



            O castelo de Mourão pode ser considerado o “ex-libres” dos monumentos concelhios.

            Segundo se pensa, o castelo de Mourão é o resultado de 4 operações:

            - Numa 1ª fase e aqui há duas posições:

            Para uns, ter-se-ia construído o actual castelejo (onde se encontraram ainda restos de paredes de casas e as cisternas), e fora viveriam outras pessoas, que se vinham mudando e deixando a Vila Velha.

            Para outros, o primeiro castelo foi todo destruído e o actual castelo, construído numa 2ª fase, assente sobre as suas ruínas. O texto seguinte é a prova da existência do tal castelo: “Saibam quantos esta carta virem e ouvirem como nós Afonso X, por graça de Deus, rei de Castela, de Toledo vendo que os castelos que são Moura, e Serpa e Mourão que eram da ordem dos Hospital de Jerusalém cumprem a nós e nosso senhorio porque são na conquista do Reino de Leão.”

            - Numa 2ª fase ter-se-á construído quase todo o castelo, actualmente existente, facto que ocorreu no reinado de D. Afonso, como se pode comprovar pela lápide existente na porta da torre de menagem: “E (ra) MCCCLXXXI anos ao primeiro dia de Março, Dom Afonso IV, Rey de Portugal mandou começar a fazer este castelo de Mouron.

            O mestre que o fazia havia nome – João Afonso – o qual o Rey, foi filho de mui nobre Rey D. Dinis e da rainha D. Isabel, aos quaes Deus perdoe – e ele foi casado com a rainha D. Beatriz – (h) avia filho herdeiro o infante D. Pedro.”

            - Numa 3ª fase, entre 1498.1517 ter-se-iam construído alguns torreões do lado Norte, onde se podem detectar algumas marcas renascentistas.

            As obras estiveram a cargo do arquitecto e empreiteiro Francisco de Arruda que além das obras do castelo de Mourão realizou também obras nos castelos de Moura e Portel.

            - Numa 4ª fase, após a reconquista da praça nas guerras da restauração, sob a direcção do engenheiro-mor Nicolau de Langres e de Pierre de Saint-Colombe (1658-1659), constroem-se quase todos os baluartes, cuja planta é em forma de estrela.

Deve realçar-se que a Torre de Menagem tem cerca de 20 m de altura e 11,70 de banda.




CONVENTO, IGREJAS, ERMIDAS E CAPELAS DE MOURÃO

 CONVENTO, IGREJAS, ERMIDAS E CAPELAS DE MOURÃO


CONVENTO


“O Convento de Nossa Senhora das Necessidades, vulgarmente denominado da Senhora do Alcance”.

Respeitando antiga tradição, o Condestável D. Nuno Álvares Pereira, fundou, em cumprimento do voto por ter vencido os castelhanos, no local, após movimentada perseguição começada em Évora e contactada desde o Rio Degebe, uma Capela dedicada à Virgem, a que os povos de Mourão e seu termo dedicavam profunda devoção.

Não existem documentos provatórios deste evento histórico nas Crónicas do Condestável, mas somente referências tardias publicadas em 1723 e 1728, respectivamente por Fr. Domingos Teixeira, na Vida de D. Nuno Álvares Pereira e na Évora Gloriosa, do padre jesuíta Francisco da Fonseca.

Este autor menciona outra acção de armas culminada no mesmo sítio, após a campanha de Toro, cº de 1478, onde as forças combinadas do Bispo de Évora, D. Garcia de Menesses, do Fronteiro-mor Rodrigo Casco de Vasconcelos e do alcaide-mor de Mourão, Diogo de Mendonça (o escritor, decerto por lapso, apelidou-o de Castro), dizimaram uma forte coluna invasora dos Reis Católicos, que penetrara na província e fizera grave razia, com numerosos prisioneiros e despojos de guerra.

Deste período era o CALVÁRIO gótico que se erguia na Tapada da Baloa, a cerca de 500 mao oriente da ermida, e cujos restos subsistem mutilados, no Museu de Évora.

O primeiro edifício possuía em 1534, no altar-mor, um retábulo velho, que necessitava de substituição, no parecer dos visitadores eclesiásticos do Bispo-Infante D. Afonso; e, mais tarde, no seu alpendre, esteve uma composição mural alusiva ao milagre da Senhora durante o combate entre Portugueses e Castelhanos, pintura assimilada ainda nos fins do séc. XVII, pelo prior Fr. José Marques de Oliveira, mas perdida antes de 1718 por caiações imprudentes dos zeladores da ermida.

Em 1670, os religiosos da Ordem da Descalcez de Santo Agostinho fundaram, à ermida, um mosteiro que não chegou a ser confirmado superiormente e o desembargo do Paço determinou encerrar em 23 de Julho de 1676, por não achar compreendido no número dos seis que a Santa Sé havia autorizado na província portuguesa. Todavia, a ermida subsitiu ao culto, a poder de esmolas de romeiros e assistida por um ermitão, até que, as diligências do Padre Manuel Jesus Maria. Instituyidor da humílima congregação de Tomina, dos clérigos regulares e ministros do eférmos e organizantes de S. Camilo de Lelis, que D. Pedro II consentia no termo de Moura e o Papa Clemente XI havia confirmado por Bula de 23 de Dezembro de 1709, aos mesmos religiosos se concedeu a casa e a cerca anexa chamada Horta dos Frades, por volta de 1717. Mais amplas doações lhe foram confirmadas por D. João V, segundo Alvará Régio de 3 de Março de 1749, assinado pelo ministro do Estado Baltazar Peles Sinel de Cordes.

No ano de 1799 os irmãos viviam de óbulos dos fiéis e de poucas fazendas do seu património, no regime de enfiteuse, Neste período, sendo vice-vigário geral da Ordem o Padre Manuel Sousa Carvalho, foi colectada, pela Fazenda Nacional, em 9900 réis” (Túlio Espanca, Inventário Artístico de Portugal, Academia Nacional de Belas-Artes, Lisboa 1970, Vol. IX, pág. 181).

Devido à construção e enchimento da Barragem do Alqueva as ruínas, de Estilo Barroco, que ainda restavam, foram demolidas e os materiais foram submersos pelas águas da referida Barragem.


IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DAS CANDEIAS OU DA PURIFICAÇÃO


Após a demolição do templo em honra de Nossa Senhora do Tojal, existente nos arrabaldes de da Porta do Relógio (actualmente ainda aparecem alguns vestígios), e que em 1657 começou a ser destruído pelos cercos espanhóis, e que foi completamente demolido em 1664, dado a necessidade de construção dos baluartes e as determinações do Conselho de Estado e Guerra e da Mesa da Consciência e ordens militares, é que se começou a construir a actual Igreja Matriz, que está integrada dentro do amuramento do castelo. Foi construída por determinação régia de D, Pedro II, de 20 de Fevereiro de 1681, sendo o seu arquitecto o engenheiro D. Diogo Pardo de Osório e dedicado a Nossa Senhora das Candeias.

Os trabalhos de talha dos altares, principalmente o do Santíssimo realizaram-se no tempo de D. João V, época áurea das grandes construções.

O terremoto de 1755 fez nele profundos estragos. Em 1969-1970 realizaram-se aqui grandes obras de reparação.

O actual edifício é de estilo barroco de uma só nave. A imagem de Nossa Senhora das Candeias é a única sobrevivente do antigo templo de Nossa Senhora do Tojal; imagem do estilo gótico-manuelino. Medindo cerca de 1,2 m e é feita de granito.


 IGREJA DE S. FRANCISCO

A sua construção ter-se-ia iniciado no reinado de D. João V, tendo as suas obras sido ultimadas já no reinado de D. José I. Foi sede da Ordem Terceira da Penitência até ao ano de 1820.

Monumento do estilo barroco, com um rico portal em xisto aparelhado com jambas e verga ornadas de florões e losangos. Composta por medalhão marmóreo com emblema da ordem da penitência e o simbólico cordão envolvido por duas tabelas, igualmente de mármore branco. Encontra-se ainda no seu pórtico o cronograma de 1740, sotoposto ao remate frontal, com anjo carnudo.

Deve-se ainda realçar a preciosidade do seu interior, já que toda a capela-mor está decorada com ricos azulejos típicos da Real Fábrica do Rato, de Lisboa, dos finais do século XVIII, onde se referem motivos religiosos com a vida de Santa Margarida de Cortona, Santo Ivo (Vivo), Santa Rosa de Viterbo e S. Luís, Rei de França. Merece, só por si uma visita a Mourão.



IGREJA DA MISERICÓRDIA


A Irmandade da Misericórdia foi fundada presumivelmente no reinado de D. João III. Após várias modificações e revezes, sofridos durante as guerras da Restauração, a actual Igreja remonta ao século XVIII (reinado de D. João V), pois que em 1719 foram adjudicadas as obras da sacristia e da tribuna, capela-mor e púlpito, pela soma de 474 000 réis.

No seu interior deve anotar-se a existência de uma preciosa talha no seu altar-mor, com colunas salomónicas de grande enfeite. O seu pórtico marmóreo está datado de 1743, tendo sobrepujado as armas da Misericórdia de escultura notável.

Aqui funcionou a Biblioteca-Museu, graças a grandes obras de restauro e adaptação levadas a efeito em 1982.

Foi de novo entregue à Misericórdia de Mourão, há já alguns anos, de acordo com o protocolo que havia sido celebrado entre a Câmara Municipal de Mourão e a Santa Casa da Misericórdia de Mourão. Voltou de novo ao culto católico após algumas obras de renovação e remodelação para o efeito.

 

 

ERMIDA DE NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS


Situada no centro da vila, adossada a prédio de habitação a N. e flanqueada por outro a O., no cruzamento da R. Benquerer com a R. José Joaquim Vasconcelos Gusmão, a actual ermida de Nossa Senhora dos Remédios, foi construída no reinado de D. José I, segundo uma autorização datada de 26 de Janeiro de 1776, referente a construção da atual igreja.

O portal é feito de xisto da região. Existe aqui um azulejo monocromo das almas do purgatório, com as maiúsculas P.N.A.M.

Entre 1976 e 1984 esta igreja foi usada como sede da banda de música local. A partir de 1984 sofreu remodelação da ermida para capela funerária. Em 1984, a Paróquia de Mourão, procedeu à remodelação da nave incluindo a remoção do púlpito e entaipamento do vão de acesso ao mesmo; construção de um tecto plano sob a abóbada, restauro das pinturas da capela-mor e construção das casas de banho.

 


ERMIDA DE S. BENTO OU DE NOSSA SENHORA DO ALCANCE


Não se sabe quando se iniciou a sua construção, apenas se conhece em 1613 a sua existência, e a do seu ermitão Domingues Fernandes.

Em 3 de Setembro de 1617, a confraria de S. Bento obteve licença para a sua ampliação, tal como actualmente existe.

A Igreja está voltada para o Norte; no entanto, está antecedida por seis cruzeiros de pedra de xisto, símbolo do Calvário da Penitência.

Deve referir-se a existência da imagem de Cristo crucificado, de tamanho natural (ou Senhor da Boa Morte), que, segundo se diz, pertenceu ao arruinado templo de Nossa Senhora do Alcance e foi oferta de D. João V.

Actualmente, depois de algumas obras de conservação, remodelações efectuadas para as necessárias adaptações, armários, vitrinas, iluminação e alarmes para protecção  do espólio a expor,   nela funciona o Museu de Arte Sacra.. A necessidade de haver um apertado controlo sobre as entradas no espaço e a falta de mão-de-obra que possa abrir e mostrar o seu recheio aos visitantes que nos visitam dá origem a que já algum tempo que se encontra fechado.

 

ERMIDA DE S. SEBASTIÃO



Edifício que deve remontar ao reinado de D. Manuel I, pois que na planta do Castelo de Duarte de Armas, já aparece referenciada.

Medidas interiores: Nave, 8 metros de comprimento x 5,15 metros de largura.

Capela-mór: 4,40 metros de largura x 4 metros de fundo.

Esta ermida esteve muito abandonada e quase em ruínas, felizmente que algumas comissões de festas de S. Sebastião tiveram o arrojo e bom senso de através das receitas das festas entregarem aquele valor para recuperação da ermida a quem pôde fazer a obra. Um aplauso para quem assim procede.

 

 ERMIDA DE S. PEDRO DOS OLIVAIS


A Ermida de S. Pedro dos Olivais está situada no alto de São Pedro junto ao Grande Lago do Alqueva. A romaria a S. Pedro dos Olivais celebra-se na segunda-feira de Páscoa.

Não sabemos ao certo a data de construção da capela de S. Pedro dos Olivais. Todavia, os “olivais” já aparecem referenciados como local de acampamento do exercito espanhol quando da tomada de Mourão em 1657 não havendo qualquer referencia à dita capela. Contudo, acredito que a génese da construção desta capela esteja ligada à história dos olivais de Mourão.

Desde os tempos antigos toda a gastronomia desta região é preparada com azeite. São exemplos as açordas, as migas, os gaspachos e as tibornas. Era também utilizado como forma parcial de pagamento de salários. Durante os vinte oito anos de guerra da independência (1640-1668) a devastação dos campos levada a cabo pelos espanhóis, destruíra alguns olivais. Com o regresso à paz (1668) a população mouranense largou as armas e lançou-se de corpo e alma ao trabalho de arranjo e recuperação dos campos, voltando a plantar olivais nas zonas desgastadas.

Os sinais do progresso foram notáveis!...a mudança da paisagem rural e a riqueza causada pelo surto de novos olivedos, refletiu-se nas construções urbanas da vila na época setecentista.

Acredito que tivesse sido neste período áureo de franco progresso e grande riqueza, supostamente já em tempos do marquês de Montebelo, alcaide-mor de Mourão, num período de forte implantação politica/religiosa, que o antigo proprietário daqueles olivais ali tivesse mandado construir a dita capela no final do século XVII. Possivelmente um dos mais ilustres mouranenses naquele tempo: João Limpo Pimentel Pereira de Lacerda.

 

 


MOURÃO SITUAÇÃO GEOGRÁFICA

 

MOURÃO


SITUAÇÃO GEOGRÁFICA

O Concelho de Mourão é composto por três freguesias, Mourão, Granja e Luz e está a 182 m acima do nível médio das águas domar. 

Tem (tinha) uma superfície de 288,72 m2 e cerca de 3570 habitantes; tendo Mourão 2014, Granja 1162 e a Luz 394 habitantes.

Mourão situa-se a 56 Km de Évora, a 202 Km de Lisboa, a 14 Km de Vila Nueva del Fresno (7 da fronteira com Espanha) e a 4 Km da margem esquerda do Guadiana. 

A construção e enchimento da Barragem do Alqueva veio alterar significativamente o espaço e a configuração paisagística do território do Concelho de Mourão e das suas freguesias. Foi construída uma nova aldeia, em substituição da que ficou submersa nas águas da Barragem, cuja essência, a alma e a sua identidade cultural e memória colectiva ainda não foi recuperada, se é que alguma vez, o possa vir a ser. Houve uma grande perda das suas valências territoriais, monumentais, históricos, agrícolas, económicas e até industriais.

Perdeu muita área de terreno do seu espaço geográfico.  Perdeu muitas árvores que faziam parte do seu tecido económico. Perdeu muitos hectares de terreno de pastagem para o gado. Perdeu uma fábrica de papel que foi sempre uma bandeira deste Concelho.

No que respeita a património histórico, perdeu o Castelo da Lousa, perdeu pontes romanas que estavam na estrada romana junto ao Guadiana, perdeu o Convento do Alcance, perdeu alguns monumentos megalíticos e as ruínas da vila Velha…





18/02/2021

ACHEGAS PARA A HISTÓRIA DE MOURÃO

 ACHEGAS PARA A HISTÓRIA DE MOURÃO

Mourão nas Lutas Liberais



Estórias que fazem a História
São escassas as referências a Mourão no período das lutas liberais, também conhecida como Guerras Liberais, ou Guerra dos Dois Irmãos, mas as poucas que existem permitem afirmar que Mourão não foi decerto imune.
«Toda a guerra civil é triste. E é difícil dizer para quem mais triste, se para o vencedor, ou para o vencido.
Ponham de parte questões individuais e examinem de boa-fé: verão que, na totalidade de cada fração em que a nação se dividiu, os ganhos, se os houve para quem venceu, não balançam os padecimentos, os sacrifícios do passado e, menos que tudo, a responsabilidade pelo futuro...» in- Viagens da minha terra
Esta passagem de Almeida Garrett nas Viagens na Minha Terra espelha bem o modo pungente como a guerra civil era recordada, mesmo por alguns daqueles que nela participaram do lado vencedor. Deste modo, não é de estranhar que a evocação desta guerra, como época de sofrimento fratricida, constitua um assunto incómodo, abordado de forma quase sempre idealizada, depurada dos seus aspetos mais chocantes.
A guerra civil travada em Portugal entre os liberais constitucionalistas e os absolutistas, foi uma era de opressão e de tirania. As prisões encheram-se de vítimas, milhares de pessoas foram degradadas para África e muitas outras expiaram na forca as suas ideias liberais. Ainda hoje existe em Mourão uma rua com o nome“ rua do alto da forca”, aludindo ao antigo local da existência de uma estrutura de má memória e de macabra serventia. Este estado de insegurança obrigou os partidos organizarem os seus próprios braços armados, formado grupos de guerrilheiros civis, onde gente de Mourão teve decerto participação ativa.
Segundo as minhas investigações, um dos membros da junta de guerrilheiros rebeldes no Alentejo, foi o mouranense António Joaquim e Abreu Moniz Guião, Baicharel formado em leis, juiz de fora, nascido em Mourão, em 20 de julho de 1797, filho do Dr. João António Inácio de Abreu Souza Guião (cujo brasão ainda se encontra na praça) e de Genoveva Leocádia Botelho Moniz, acérrimo defensor da carta constitucional, referenciado no Diário da câmara dos senhores deputados-Ano1826 nos seguintes termos:
Moura «António Joaquim de Abreu Moniz Guião, promoveo e proclamou a Rebelião naquela villa; Fugiu com os rebeldes e capitaneou os bandidos chamados guerrilheiros.-- Demitido »(1)
Foi demitido peço decreto de 27 de janeiro 1827.
Consta que forças miguelistas do Algarve, parte dos rebeldes de 14 e caçadores 4, entraram em Portugal, por Barrancos (Alentejo) , em 4 de dezembro de 1826, vindo a juntar-se em Mourão, como reforço das tropas miguelistas, do brigadeiro Magessi, que tinha sido nomeado general do Alentejo e Algarve, pelo marquês de Chaves. Este general trazia consigo os regimentos de infantaria 17 (2.º de Elvas) de cavalaria n.º 2, 90 praças de cavalaria n.º 7, que tinha aprisionado em Vila Viçosa, e vários contingentes de diversos corpos, que se lhe tinham reunido. Fugiram de Vila Viçosa com duas companhias de milícias e os «dinheiros públicos» do «cofre»pela estrada e Monsaraz para Mourão, onde entraram em 6 de dezembro de 1826.
Num extrato de uma carta particular, escrita em Elvas em 11 de dezembro de 1826, dirigida ao diário político“ O PORTUGUÊS" lê-se o seguinte:
«(...) O comandante em chefe é o famigerado Magessi, e o segundo no comando é o Canavarro, aquelle aquém no Rio de Janeiro se fez conselho de guerra e foi declarado indigno, por cobarde, de mandar qualquer corpo motivo mais para ser mui digno de capitanear traidores, rebeldes, e salteadores. Maguessi tem três ajudantes de campo um deles chamasse Pizaro e os outros ignoro os seus nomes. Figura de ajudante general o tenente-coronel António José Doutel, de quartel mestre general D. Gil Eanes, e de secretário militar o Guerreiro. Canavarro comanda agora o 14, o major Brinquem o 17,o major Gama a cavallaria, o tenente-coronel Alpoim os caçadores 4 e os desertores.e o tenente-coronel Matta os 10 homens de artilharia. Nesta devisão há alguns paisanos, e consta que em Mourão, se lhe juntaram os officiais fugidos de Peniche. Antes de entrarem em Portugal receberam 60 cartuxos cada praça, além de munições de guerra em carreias e foram pagas até ao final de novembro de pret e etape. a estes arranjos presidiram as authoridades hespanholas, e desde a entrada dos rebeldes n’esta provincia teem mantido conrespondencia activa.»(2)
Há noticia de que quando «Entraram em Mourão cometeram as maiores hostelidades. Nenhum individuo de casaca, deichou de ser perseguido, insultado e preso. Os roubos, insultos, e patifarias excedem a compreensão humana, e tudo quanto nos transmite a tradição acerca dos vândalos fica a perder de vista»(2)
A presença de tamanha força militar rebelde afeta ao partido absolutista de D. Muiguel, terá intimidado a população, havendo noticia de que o juiz de fora de Mourão «Caetano José Gonçalves de Carvalho,unio-se aos rebeldes quando entraram na dita vila, aclamando o seu governo, convocou e armou o povo; e desapareceu quando os facciosos se invadirão- Ouve o lugar por acabado.» (1)
Sabe-se no entanto que, as actividades de Magessi no Alentejo não passaram de uma sortida a Vila Viçosa (onde, aliás, encontrou resistência), da tomada provisória de Mourão e da entrega ao «povo» de proclamações e folheto. Nenhuma praça importante caiu e, prudentemente, Magessi, acantonado em Espanha, reduziu as suas ambições a um ocasional reconhecimento.
Estória :
As guerras deixam sempre um sentimento de ódio que se prolonga para além dos acordos de paz , fazendo por vezes mais vitimas que a própria guerra. Sou aqui assaltado, pela recordação de uma estória que ouvi em Mourão nos tempos da minha meninice, contada, repetidas vezes aos serões, por dois homens antigos da vila, dizendo que a mesma já lhes tinha sido contada pelos seus avós. Estória esta que, remonta ao tempo da guerra civil fratricida, que opôs os irmãos D. Pedro e D. Miguel, ou seja, liberais e absolutistas.
Acreditando no velho ditado de que“ quem conta um conto acrescenta um ponto” tentarei aqui então resumir esta estória dizendo que se instalou um clima de terror na vila de tal modo perigoso que qualquer pessoa, que se manifestasse contra o regime, ou se tornasse desafecto do senhor seu “patrão” corria o risco de ser morto à traição à facada ou à machadada às esquinas das ruas pouco iluminadas da vila.
A ser verdade esta estória, contada de geração em geração pela gente antiga da vila, quem sabe afinal se estes assassinatos não foram praticados por gente, pertencente ao bando de guerrilheiros chefiados pelo célebre “Remechido” grupo armado partidários de D. Miguel, que se sabe ter operado nas terras algarvias e em todo o Alentejo?!...
Texto: Francisco Capelas
foto: caricatura representando D. Pedro IV e D. Miguel disputando a coroa portuguesa, por Honoré Daumier, 1833.

Fontes:
(1) -Diário da câmara dos senhores deputados-Ano1826 (pag. 457)
(2)- O Portuguez- Diário Político, literário e Comercial- 2 /dez/1826 

"Texto Francisco Capelas"