Pesquisar neste blogue

RETRATO DE MOURÃO ANOS 50 E 60

 RETRATO DE MOURÃO ANOS 50 E 60



As publicações deste retrato de Mourão anos 50 e 60, pretendem ser uma homenagem, um enaltecimento, ao povo de Mourão que com enormes sacrifícios, que muita gente se lembra, contribuiu para que se tornasse possível a sobrevivência de toda uma população que fez, e algumas dessas pessoas ainda fazem, parte da nossa história, naquele período temporal da Vila de Mourão.
A Câmara Municipal também absorvia alguma mão de obra que reflectia nas obras, abastecimento de águas, limpezas e os funcionários da secretaria da Câmara Municipal. A secção de Finanças a Conservatória que funcionavam no mesmo edifício da Câmara Municipal também empregavam alguns funcionários.
A Guarda Fiscal com uma secção localizada em Mourão, tinha todos os seus postos fronteiriços sob o seu comando tendo por isso um grande número comandos e seus subordinados, num grande efectivo de agentes, que patrulhavam a fronteira numa boa extensão de quilómetros.
A Guarda Republicana também tinha um razoável número de efectivos que mantinham a ordem e a autoridade na povoação. O Posto da Guarda Nacional Republicana situava-se na Rua da Lapa e tinha saída para uma travessa, por onde saiam os cavalos que nessa altura o posto possuía para ajuda nas saídas desta força de segurança para patrulhar os campos.
Havia também como residentes em permanência 2 Guardas da Venatória que constantemente patrulhavam os campos do Concelho em defesa da caça e do regime cinegético.
O Posto dos Correios que funcionava na altura na Rua Joaquim Silvestre de Vasconcelos Rosado.
A Farmácia estava instalada na Rua da República, hoje Rua General Humberto Delgado, no local onde é hoje o posto dos Correios. Penso que foi para aquele local enquanto ocorriam obras de grande vulto naquela que seria a loja de Manuel Timóteo, conhecido por “loja do Quico”.
No Largo das Portas de S. Bento existia a coudelaria, de Guilherme Gião onde eram criados cavalos que eram depois vendidos por todo os cantos do Mundo. Ali ficavam as éguas que eram depois cobertas por um garanhão de outra coudelaria, do Estado, em que uma pessoa especializada, tomava conta desse exemplar enquanto se procedia aquela fase da inseminação das éguas. Quando chegava a altura, os poldros eram levados para outro local também em Mourão, de onde eram depois transferidos para o local de desbaste e doma para posterior venda. Estavam presentes em todas as feiras da especialidade, onde podiam ser apreciados, estes exemplares que tinham muita fama, por todo o Mundo. O tratador destes animais, nos estábulos e na pastorícia era conhecido por “José Fatias”.
Nesta época, de poucas possibilidades, devemos também incluir um posto de trabalho sazonal, porque era mais durante o Verão, um vendedor de água, que com o seu carro de pipa e um burrinho, vendia o precioso líquido de porta a porta. Este senhor chamava-se o “Ti Chico da Páscoa”. Havia ainda Rodrigo Sovela. que trabalhava em situação de sobrevivência e que durante o Verão vendia gelados, com um carrinho próprio para o efeito, e durante o Inverno, também em carrinho adaptado, vendia castanhas assadas. Ainda havia, em Mourão o apregoador, o velho Chigadinho, que quando as pessoas perdiam algo, era ele que percorria as ruas da vila a dar conhecimento do facto, no intuito de a pessoa que encontrasse o perdido o entregasse ao legítimo proprietário.
Junto à “Adua” vivia uma família que não era de Mourão propriamente, o nome por que era conhecido, o chefe de família, o João “das Latas” cuja profissão como a alcunha indica era latoeiro, daquelas mãos saiam utensílios em chapa de zinco, para todas as necessidades, cântaros, efusas, potes para o azeite, braseiras, pás para o lixo (ferras), etc., fazia reparações em todos os utensílios do mesmo material. Vendiam os utensílios em casa e também pelas ruas de porta em porta.
Pelas ruas vendiam, em modo de vendedor ambulante, o “tio Prim” e o José “Bleguinho”, com um carro de tração animal, com uma capota, vendiam hortaliças, frutas, carvão, petróleo, enfim algumas coisas que as pessoas tinham necessidade no seu dia a dia. Ao sábado, o peixe que não era vendido no mercado, era vendido pela rua, num carrinho de mão, pelo peixeiro José “Piti”.
CONCLUSÃO
Em jeito de balanço dos relatos e para mostrar um pouco o declínio da nossa vila a partir de 1960.
A partir dos anos 60 a população de Mourão começou a decrescer, devido à emigração e até mesmo imigração, no nosso País, para as periferias das grandes cidades, com as pessoas à procura de melhores condições de vida noutros locais onde havia maior abundância de trabalho: empregos estáveis, construção civil, fábricas, forças de segurança, outros ramos das forças armadas: Marinha, Exército, Aviação, Forças de Segurança, Guarda Republicana, Guarda Fiscal, Policia de Segurança Pública, Sapadores Bombeiros, tudo serviu para que as pessoas saíssem da localidade onde não conseguiram ter as condições mínimas necessárias ao bem estar e conforto das suas famílias, situação que a própria terra não conseguiu proporcionar aos seus naturais.
Foi o principio da saída de muitos pessoas das zonas do interior para as periferias dos grandes centros urbanos onde era mais fácil arranjar trabalho e poder estabilizar a sua vida e a da família, anseio sempre presente na mente de todas as pessoas, uma situação mais que natural.
Esta situação não aconteceu só em Mourão. Por todo o interior aconteceu o mesmo e aos poucos, não sendo tomadas medidas capazes de modificar esta tendência, o Alentejo e outras zonas do interior estarão tão desertificadas que não haverá tão depressa possibilidade de poder voltar a repovoar com a densidade populacional que se justifique. É o abandono das zonas interiores e desertificação em marcha para uma viagem sem retorno!
Fotos da Net




HORTAS EM MOURÃOHORTAS EM MOURÃO

HORTAS EM MOURÃO

Foto da NET

Nos anos de 1950 e 1960, Mourão era uma povoação razoavelmente povoada e chegou a ter quase 6000 habitantes, sendo necessário um grande desenvolvimento logístico para atender principalmente ao nível de produtos o abastecimento deste número de população residente.
A situação que vou descrever trata os anos depois de 1955 e quando eu já tomava atenção às coisas que eu tenho em memória de estarem a funcionar. Assim vou começar por aquelas que eram mais necessárias à fixação de pessoas na nossa vila.
Quero por este meio pedir desculpas às pessoas e à família dessas pessoas, pelos nomes aqui descritos, por ser esse o nome porque eram conhecidos.
Mourão naqueles anos tinha em volta da povoação um grande número de hortas que até há algum tempo atrás ainda tinha pessoas na sua exploração. Aquelas que eu vou enunciar serão aquelas que tinham pessoas a habitá-las e a trabalhar nelas, quando eu já era nascido e que me lembro.
Assim, tomando como guia para não me perder, algumas vias de comunicação mais usadas:
  • Na estrada da Coutada, temos: A horta do velho Freitas; A horta de Zé do Galo; A horta da velha Curvinha; A horta do Hermes; A horta do Pinguinhas; A horta do Medinas.
  • Na estrada de Sevilha, temos: A horta do Major Soromenho; A horta do Prego, (Caeiro Lopes); A horta de Joaquim Amaral.
  • No caminho da Faia, temos: A horta da Faia; A horta do Rodrigo Bravo; A horta do tio Luís da Pedreira.
  • Na estrada das Ferrarias, temos: A horta da Margalha; A horta do Conde, chamada horta do Eleutério.
  • Na estrada de Vale de Coelhos, temos: A horta de Vale Coelhos do Pinguinhas; A horta da Bia Glória;
A horta do Velho Rojão; A horta do Inácio do Estevais, horta da Vitória; A horta de Santa Rita.
  • Estrada da Barca temos: A horta de S. António; A horta dos Barretos; A horta da Fonte das Bicas.
  • Para o lado do Guadiana, temos: A horta do Pé Garrido, Moinho de Cordeiros; A horta das Cabaças.
Estas hortas ficavam todas juntas ao Ribeiro das Vinhas.
Algumas das hortas, quinchosos e hortejos, outras estruturas do género, mas mais pequenas, situavam-se junto ao Ribeiro das Vinhas, por ser um curso de água que naquele tempo tinha quase sempre água corrente, era por isso aproveitado pelas pessoas que ali plantavam os seus produtos para consumo próprio e também para venda na povoação. A rega era efetuada por um princípio de “Levadas” através de sistemas de comportas com o fim de prender as águas para atingir diversos canais que conduziam o precioso liquido para as zonas onde estavam plantadas as culturas que precisavam de rega. Este sistema estava implantado naquele ribeiro deste o início até à sua foz no Guadiana perto do Moinho de Cordeiros em pontos estratégicos pelos desníveis que o percurso que a linha de água tinha de percorrer.
"Texto Joaquim Frasco"


RETRATO DE MOURÃO ANOS 50 E 60 (Continuação)
BARBEARIAS
Foto da NET

Estes estabelecimentos para além do corte de barba e cabelo serviam também para por a conversa em dia. Por vezes os clientes queriam apenas conversar sobre problemas da vida e enquanto esperavam a sua vez davam aos restantes um dedo de conversa sobre os temas que aconteciam na vila.
Em Mourão existiam, a trabalhar neste período de tempo, as seguintes barbearias:
  • A barbearia do Mestre Constante, na Rua de S. Sebastião (rua de Fora).
  • A barbearia do Assucarinho, na Rua Joaquim J. Vasc. Gusmão:
  • A barbearia de Joaquim Figueiredo (Raio da Velha) na rua 9 de Abril
  • A barbearia de Manuel Timóteo (Quico), na Rua do Norte.
  • A barbearia de Manuel Neves, na Rua de S. João.
Nestas barbearias, uns rapazes aprendiam o ofício ensinados pelos proprietários e depois pelos mestres que posteriormente tomavam conta dessas mesmas barbearias. Este sistema era muito utilizado pelos rapazes na aprendizagem de um ofício que lhe iria servir para a sua vida um dia mais tarde. Alguns continuavam, mas outros, porque não gostavam, procuravam outros empregos ou trabalhos para poderem governar a sua vida.
"Texto Joaquim Frasco"


CARPINTARIAS
Foto da NET

Havia em Mourão, algumas carpintarias a trabalhar, aqui também se utilizava na mesma o sistema em que os rapazes aprendiam o ofício, num período longo em, que serviam de ajudantes aos mestres, sendo que era uma maneira de que depois de acabarem a instrução primária de estarem ocupados e que lhe serviria mais tarde para a sua vida. Destas carpintarias temos:
  • A carpintaria do Bico, funcionava na Rua de S. José.
  • A carpintaria de José Bravo, funcionava na Rua de S. Bento.
  • A carpintaria de Anastácio Rojão, funcionava no largo das Portas de S. Bento (Largo da Feira, por ser ali que se realizava a feira anual de Maio).
  • A carpintaria de Joaquim António Rodrigues (Raça de Cão) que funcionava na Rua João José de Vasconcelos Rosado.
  • A oficina de abegão, de António Ramalho, "O Tanas", que funcionava na Rua da Escola.
Havia também mais alguns carpinteiros que trabalhavam sem oficina por conta própria era o caso de por exemplo de Higino Bonito ...
Naquele tempo não havia maquinaria e todos as obras eram feitas manualmente com ferramentas próprias para cada trabalho específico. Era um ofício que necessitava de uma grande habilidade e destreza no manuseamento daquelas ferramentas. Alguns dos trabalhos eram na verdade obras de arte devido à minucia com que eram executados e os seus executantes eram verdadeiros artífices.
"Texto Joaquim Frasco"

SAPATEIROS


Naquele tempo, os serviços de sapateiro eram muito procurados, rendimentos fracos, normalmente famílias numerosas. Havia a necessidade de reparar o calçado porque se tornava menos dispendioso do que comprar novo. O fabrico artesanal também permitia que o calçado pudesse ser reparado, algumas vezes, pois a maneira como era fabricado permitia até a colocação de solas novas uma vez que eram cosidas à mão.
Tal como noutros ofícios, aqui o mestre sapateiro também ensinava os seus aprendizes que mais tarde já ajudavam nos trabalhos que o sapateiro angariava. Neste período que se pretende descrever estavam estabelecidos os seguintes sapateiros:
- O mestre Domingos Ilhéu, na rua de S. Bento.
- O mestre João Guiomar também na Rua de S. Bento.
- O mestre Brás Guiomar na Rua de S. Sebastião, (Rua de Fora).
- O mestre Zé Cabra, na Rua da Lapa.
Havia depois aqueles que trabalhavam neste ofício em tempos livres e que ao mesmo tempo tinham outros trabalhos para conseguirem melhorar o orçamento familiar para atender à necessidade da família e ao fim e ao cabo sobreviverem. Neste caso podemos indicar o Domingos Ramalho, o Joaquim Pedro Brochado (Joaquim Parrala), o Joaquim Lopes, (Joaquim do Goberto), o António Lopes (Tiquenique) 
"Texto Joaquim Frasco"



FERRADORES E ALBARDEIRO

Foto da NET
Naquele tempo, todo o sistema agrícola assentava nos animais para o trabalho de lavoura, transporte dos produtos, deslocações e outras situações de necessidade. Para o fabrico de albardas, mulins, encostos e outros utensílios para os animais existia a profissão de albardeiro. Nas condições de protecção e do seu bem estar era necessário que os animais tivessem sempre um tratamento cuidado, na tosquia e nos cascos e colocação de ferraduras nas patas principalmente nas patas dianteiras. Por isso teriam de existir para esses trabalhos os ferradores que se encarregavam daquelas tarefas nos animais destinados à agricultura.
Os ferradores que estavam no activo em Mourão eram:
- O mestre “Rufia” que tinha a oficina na Rua Machado dos Santos;
- O mestre José Alberto que tinha a sua oficina na Rua do Benquerer;
- O mestre Belchior Matrola que tinha a oficina na Rua da Fábrica.
- O mestre Domingos Matrola (“Baineta”) era o único albardeiro que exercia em Mourão na Rua Machado dos Santos.
Com o aparecimento do tractor agrícola os animais foram perdendo a sua mais valia e daí estas profissões terem praticamente desaparecido de Mourão precocemente, procurando, os últimos ferradores, outros trabalhos para conseguirem sobreviver. Os trabalhos começaram a ser feito mais rapidamente e em melhores condições que os animais não conseguiam igualar. Profissões como as de ferrador e albardeiros começaram a ter cada vez menos trabalho e acabaram por procurar outros modos de sobrevivência. Hoje praticamente, na nossa zona, não existem e aquele que ainda exerce tem outra ocupação servindo a de ferrador e ou de albardeiro para conseguirem uma melhoria nos seus orçamentos familiares.

Foto da NET


INDÚSTRIA E SERVIÇOS



Neste período existia também uma moagem que se destinava a fornecer a farinha para que a população pudesse ter o acesso ao fabrico do seu próprio pão essencial para a sua alimentação e sobrevivência. Estava instalada na rua da Fábrica mesmo ao lado do lagar da Dona Hermínia.
Funcionavam, quando o Rio Guadiana permitia, ainda os moinhos do Guadiana, o do Mendonça, a montante da ponte do rio do mesmo nome e o de Cordeiros, a jusante daquela ponte. Na Albufeira de Mourão, em período de Inverno, laborava também o Moinho da Albufeira.
Havia uma pessoa, o maquilão José Amaro, que fazia o transporte de cereais para os moinhos do Guadiana e no regresso trazia a farinha para as pessoas que tinham entregue os cereais para moer, por conta de José de Sousa, a quem pertenciam aqueles moinhos.
Nesta altura laboravam, no tempo normal da colheita da azeitona, num período de cerca de 4 meses, três lagares de azeite a saber:
- O lagar da Dona Hermínia, na rua da Fábrica.
- O lagar dos sócios (Inácio L. Fernandes e os irmãos Ferros), na Rua de S. João,
- O lagar de António Leonel, no Largo Tenente General José António da Rosa, conhecido como largo dos Bibes.
Havia ainda 3 oficinas de serralharia e mecânica:
- A Oficina mista de mecânica e serralharia de Francisco Medinas, localizada na Rua da Escola, com acesso pela estrada de circunvalação;
- A Oficina mista de Manuel Carreteiro (Manuel Lila) situada na Rua D. Manuel I, esta oficina tinha também uma secção de abegão para reparar e reconstruir os carros de tracção animal;
- A Oficina de mecânica de Joaquim Coelho que se situava na Travessa de Vale Grou.
Havia também, na altura dos alavões, fabrico de queijos de ovelha e outros queijos a saber:
- Francisco Cartaxo na Rua de S. Bento.
- José Amaro, no Largo Tenente General José António da Rosa e mais tarde na Rua da Lapa. Este senhor saiu de Mourão e foi viver para as Aldeias de Montoito onde continuou a sua labuta no mesmo ramo e também na agricultura.


Matadouro Municipal: para apoio aos talhantes que exploravam os talhos em Mourão, funcionava diariamente o Matadouro Municipal. Os animais para venda nos talhos em Mourão eram ali sacrificados pelos próprios talhantes e as carcaças preparadas para a inspecção do Veterinário Municipal e respectiva marcação pelo funcionário municipal, Luís Nunes que a isso estava indicado. O transporte era feito através de um carro próprio, puxado por um animal, o condutor era o velho “Guardilha”, que levava as carcaças e distribuía pelos talhos consoante os seus proprietários.
Na Rua do Norte estava instalado, António José Malhado, o electricista. Este senhor vendia também material eléctrico a outros profissionais. Tal como em todos os ofícios também aqui havia uns rapazes que aprendiam este ofício, de electricista, e também aqui estes aprendizes quando chegavam a oficiais normalmente ou trabalhavam por conta própria ou procuravam outros sítios onde desenvolver o trabalho da sua especialidade em outras oficinas ou locais. Este profissional, associado a uma outra pessoa projectavam cinema aos Domingos, no Salão de Cinema na Rua Cândido dos Reis.

CELULOSES DO GUADIANA


Esta Unidade Fabril, Celuloses do Guadiana, SARL, foi fundada em 1955. A sua origem bem como a sua localização, deveram-se à existência no Alentejo de uma fonte importante de matéria prima, para o fabrico de papeis de embalagem, a palha de cereais. A fundação das Celuloses do Guadiana, constitui, assim, uma iniciativa de um grupo de agricultores da região com o intuito de consumir um produto agrícola existente localmente em abundância. A palha foi deste modo, a principal matéria prima na produção de papeis para cartão canelado durante cerca de 20 anos. Embora em menor percentagem, começou também no seu início, a usar o desperdício de papel.
Naquela altura o fabrico de cartão canelado e a sua transformação em caixas de cartão faziam parte das mesmas instalações junto à ponte do Guadiana em Mourão.
Era uma das grandes empregadoras de mão de obra no Concelho naquela altura, tanto masculina como feminina, porque a parte do cartão canelado aproveitava muita mão de obra feminina. A secção do cartão canelado, em 1965 foi transferida para Albarraque, sendo logo aí que uma grande quantidade de pessoal deixou Mourão para rumar para aqueles lados.

ADEGAS, TABERNAS E CAFÉS

As adegas, tabernas e cafés eram locais onde as pessoas socializavam depois de uma longa e dura jornada de trabalho. Eram estabelecimentos mais frequentados pelos homens e onde as mulheres poucas vezes entravam. Ali os utentes conviviam e entre um copo de vinho e outro, às vezes retirados directamente da talha (pote), cantavam as modas mais em voga no Alentejo. No período em questão havia em Mourão as seguintes Adegas/Tabernas/Cafés:
- Na Rua de S. Sebastião (Rua de Fora): a adega de Braz Guiomar;
- Na Rua da Lapa: a adega de Francisco Arranhado; a adega de Venceslau Raminhos; a adega de Bento Salgado;
- Na Rua Joaquim José Vasconcelos Gusmão: a adega de António José Ribeiro (António José Manco);
- Na Rua Marcos Gomes de Vasconcelos Rosado: o café de Rodrigo Amaral;
- Na Rua 9 de Abril: o café de António Figueiredo (“Raio da Velha”); no Mercado Municipal: A adega de António José (“Flosinha”);
- Na Praça da República: O café do Galego; o café do Papa Açorda; o café dos Ricos;
- Na Rua dos Combatentes da Grande Guerra: A adega da Tia Maria Raminhos (Maria Cascalha);
- Na Rua Machado dos Santos: A adega de António Lopes; a adega de Rodrigo Ramalho (Rodrigo da Maneta)
- No Largo dos Combatentes da Grande Guerra: O café de António João da Rosa Angélica “Balanita”;
- Na Travessas dos Pinheiros: A taberna de Rafael Pinto (“Malacom”);
- Na Rua de S. João: A taberna de José Maria Vinhas;
- No Largo Miguel Bombarda: A taberna de Vitorino Palma.
Ainda neste período, algumas delas foram fechando e os proprietários foram também eles procurando outros locais para trabalharem ou ainda porque devido à idade fecharam os seus estabelecimentos. Em verdade a falta de trabalho e as dificuldades cada vez maiores para a população do Concelho e nomeadamente da Vila, fizeram com que as pessoas começassem a sair de Mourão e a procurar outros locais na demanda de melhores condições de vida, justificaram aqueles encerramentos.
Em jeito de homenagem!

PEDREIROS


Naquele tempo, não havia firmas de construção civil e este ofício, de pedreiro, funcionava, normalmente com um mestre, que poderiam ser até mais, que tinha ou tinham alguns serventes, consoante a obra em que estivessem a trabalhar.
Tal como noutros ofícios, aqui o mestre pedreiro também ensinava os seus serventes que mais tarde também seriam também pedreiros que depois, ou fazia parte da equipa, ou começaria a trabalhar por conta própria nesse mesmo ofício. Para além da alvenaria com materiais mais modernos ainda se construíam paredes, nomeadamente exteriores e a da divisão das águas dos telhados, em taipa que consistia em colocar dois taipais lado a lado e enquanto os serventes carregavam a terra em alcofas de palma, o mestre batia a taipa com uma ferramenta parecida com um maço, de forma a apertar a taipa para que esta não se desfizesse quando eram retirados os taipais para quando os passavam mais à frente na continuidade da parede.
Neste período havia a trabalhar em Mourão, as seguintes pessoas:
- O mestre Diocleciano Batista e os filhos
- O mestre Joaquim Palhinhas
- O mestre Miguel Palhinhas
- O mestre “Poplina”
- O mestre Manuel Francisco (Gemico) e seu irmão Chico Agostinho.
Alguns destes pedreiros eram perfeitos nas obras que faziam, chegando mesmo alguns a desmanchar o trabalho feito quando de facto não gostavam do que tinham realizado. Acompanhei, mais tarde o trabalho destes dois últimos pedreiros e de facto eram do mais perfeitos que havia em Mourão.


SOCIEDADES RECREATIVAS



Neste período de tempo a que se refere o assunto apresentado as Sociedades Recreativas representavam a necessidade de as pessoas se socializarem através da convivência que as sociedades proporcionavam aos seus associados. As instalações de cada sociedade eram muito frequentadas pelos seus sócios e serviam também para as pessoas se abstraírem das dificuldades que a vida lhes trazia. Realizavam-se frequentemente bailes e cada sociedade apresentava aqueles bailes que eram muito característicos como por exemplo: a Pinha, a Laranja, o Bacalhau, os bailes das Festas tradicionais.
Em Mourão existiam, neste período, três sociedades a saber:
- A Sociedade Recreativa 9 de Abrilque representava a classe mais desfavorecida;
- A Sociedade Artística Mouranense, representava uma classe média em que aqui os sócios deveriam ter uma profissão;
- O Club Mouranense que representava uma classe mais abastada.
A Sociedade Recreativa 9 de Abril contava, naquela altura, com um rancho folclórico em que participavam muitos dos jovens de Mourão. Também, neste período tinha a disputar o campeonato nacional da 3ª divisão (naquele tempo não havia regionais) da Associação de Futebol de Évora. Tudo isto para homenagear um homem, músico da Banda Filarmónica, que naquela altura fez muito pela cultura e pelo desporto de Mourão, era ele Marcos Baptista, conhecido por Marcos Saramugo ou ainda por Marcos Batata.
Os associados honravam e defendiam as cores das suas sociedades com tamanho vigor que por vezes aconteciam coisas menos agradáveis entre cada grupo. Era assim o bairrismo de quem fazia parte desta ou daquela sociedade. Em verdade havia associados que o eram de mais de uma destas sociedades
Nesta data havia também uma banda filarmónica, A Banda Mouranense, que ensaiava no edifício ao lado da escola das raparigas no castelo. Tinha uma boa quantidade d músicos e na altura já contava nas suas fileiras um número razoável de elementos jovens. Tinha uma escola onde os rapazes aprendiam música e assim dar continuidade à banda. Alguns destes músicos fizeram parte de grandes orquestras, do Exército, da Marinha, da Guarda Republicana e Guarda Fiscal…
SISTEMA DE SAÚDE E ACÇÃO SOCIAL
Em relação à saúde, em Mourão, ainda funcionava o hospital da Misericórdia onde dava consultas o Dr. Ravasco dos Anjos, auxiliado pela enfermeira Joaquina Sampaio. O Dr. Ravasco também consultava os doentes, em casa, no seu consultório. Havia também consultas na Casa do Povo de Mourão ministradas pelo Dr. Tito Fernandes, auxiliado pela enfermeira Maria Inácia Oliveira. Também consultava doentes, no consultório, em sua casa.
Na Casa do Povo funcionava um sistema de apoio, para os seus associados mais necessitados, que ajudava a custear os medicamentos prescritos. Atribuía também subsídios de desemprego quando as pessoas estavam desempregadas, principalmente quando o desempregado tinha família. Acontecia também quando o associado estava doente e não tinha possibilidade de ganhar o sustento da família.
Era por assim dizer um sistema de segurança social o que a Casa do Povo tinha em funcionamento. As Casas do Povo tinham os seus associados que pagavam uma quota mensal. Funcionava também um sistema de divertimento dos trabalhadores e suas famílias, numa ligação com a FNAT, para programas de variedades de vez em quando. Projectavam, de vez em quando, cinema ao ar livre no rinque desta Instituição.
EDUCAÇÂO


O sistema educativo era em regime de separação por sexo dos alunos. Os rapazes tinham as aulas no edifício da Escola Primária na Rua da Escola e as raparigas tinham as aulas na Escola Primária no edifício antigo encostado ao Castelo e junto à Igreja Matriz. Nesta altura também os professores eram do sexo masculino para os rapazes e do sexo feminino para as raparigas. Estas escolas seriam desactivadas logo a seguir à década de 60, no ano de 1963 quando transitámos no início do ano para a escola nova que foi construída no largo em frente à Rua Vasco da Gama, perto onde foi construído o Bairro da Casa do Povo, vulgarmente conhecido como Bairro do Rossio. Aí as aulas eram divididas da seguinte maneira: os rapazes tinham aulas de manhã e as raparigas da parte da tarde. Foi assim até à construção da outra escola junto à estrada da Luz.



FABRICO DE TIJOLOS E TELHAS EM MOURÃO

Em Mourão, até para aí em 1950, havia duas fábricas de tijolo e telhas. Estavam situadas junto à albufeira de Mourão, pela necessidade de adicionar água ao fabrico destes utensílios de barro. Não conheci nenhuma delas a laborar, mas sei onde estavam localizadas estas duas unidades de fabrico de tijolos e telhas de barro.
Uma delas, a de … Saraiva, estava localizada, perto da ponte da albufeira, na estrada da coutada. A seguir à ponte, no lado esquerdo quando se vai para o lado do monte dos Pinheiros. Havia ali um poço grande que está agora totalmente apanhado por um silvado de meter medo. Não há sinal nenhum de ter havido ali a existência de nenhuma fábrica, (mas houve mesmo), das que estamos a descrever.
Por outro lado, junto aos telheiros, para o lado da horta do Medinas e Monte Fonte dos Arcos, existem, ainda ali, todos os vestígios de ter havido uma unidade de produção de tijolo e telhas com os seguintes equipamentos que ainda são fáceis de identificar:
- Um armazém ou casa de arrumos para ferramentas e materiais necessários para o fabrico do material em questão ou ainda para ali fabricar o material em causa;
- Uma tina para amassar o barro, onde eram misturadas, a água, a terra e algum outro material para tornar aqueles produtos mais resistentes para a manufactura dos tijolos e telhas que tanta falta faziam para a construção de habitação ou outros edifícios para outros destinos;
- Um forno para cozer o produto que era fabricado nas instalações que depois de secos eram cozidos naquele forno.
O material fabricado, e já em condições de ser utilizados, deveriam ser armazenados no exterior pois não se nota ali nenhum armazém onde pudessem ser guardados grandes quantidades daqueles produtos, ou eram consumidos logo assim que eram acabados.


FORNOS PARTICULARES DE COZER PÃO


Mourão naquele tempo tinha os chamados fornos de cozer pão, aqui propriamente não eram fornos comunitários porque eram pertença de alguém que também servia de forneiro ou forneira, e que a troco de pão e ou bolos executavam a cozedura. Pertencia também ao proprietário do forno a procura e o transporte de material combustível para aquecer o forno.
O pagamento do trabalho era feito através dos produtos que eram cozidos nos fornos e este pagamento, denominado “Poia”, consistia em que em cada pessoa que levasse o pão a cozer no forno, deixava um pão, muitas vezes era preparado um maior para esse pagamento. O pagamento dos bolos, consistia que em cada 10 ou 12 a forneira ficava com um. Este pagamento permitia que a forneira ficasse com a sua parte para a sua alimentação e com a venda dos outros, o pagamento dos trabalhos necessários para a preparação do forno e os custos com a lenha.
- Em Mourão para os lados do Castelo, funcionavam os fornos de: Manuel Borges e onde trabalhou, que me lembre pessoas da minha família, João Conde e Maria Joaquina; o forno do “Ti” Joaquim Pinto e Generosa “Periquita” ao lado.
- Na zona do centro de Mourão, funcionava o forno de Sebastião Carretas que tinha como arrendatário, o “Ti” Joaquim Pires e Rita Ramalho, (Rita do Forno); o forno do Velho Parrala e de Maria Cornélia que funcionava na Rua do Norte.
- Na Rua do Alcance funcionava o forno do Adolfo e eram os proprietários que tomavam conta dele.
- Na Rua de S. Sebastião (rua de Fora), funcionava também um forno que pertencia a Joaquina Rita e mais tarde a José da Cruz e Maria Joaquina Serrano.
- Para o lado da Rua da Cruz, funcionava o forno onde esteve o “Ti Chico Ratão e Estina Flores e depois António José Bação e Beatriz “Balanita”; e o forno de Agostinho Gata onde esteve o meu avô e a minha avó, João Frasco e Maria Quitéria.
Em alguns, havia dois fornos, para que pudessem dar a conta e cozer ao mesmo tempo pão e bolos sem misturar uns e outros.
Para além de pão e bolos as pessoas levavam ao forno também, os assados dos dias festivos, fosse de borrego ou até de frango ou galinha, os pimentos para assar no forno, o peixe em pequenos tabuleiros de lata para fritar. O forno tinha muita utilidade naquela época porque as pessoas não possuíam outras condições para fazer esse tipo de cozinhados e que normalmente eram feitos muitas vezes.
Para além destes fornos funcionavam, também, as padarias de Sebastião Carretas e dos Cordoeiros que fabricavam o pão de uma forma mais industrializada.


MERCEARIAS E OUTRAS LOJAS DE COMÉRCIO MISTO


Em Mourão havia uma boa quantidade de mercearias e lojas de comércio misto onde as pessoas se forneciam de produtos para a sua alimentação, tecidos, roupas, limpezas, material de iluminação, como candeeiros, fogões a petróleo, petróleo e mais um sem números de produtos necessários às condições de vida daquela altura.
No período assinalado havia as seguintes mercearias e lojas de comércio misto:
- Na rua de S. Sebastião: A loja de Belchior Ramalho; a loja de Margarida do Ilhéu.
- Na rua Joaquim J. Vasc. Gusmão e rua 9 de Abril: A loja de Joaquim Arranhado; a loja do Ilhéu; a loja de brinquedos e outros produtos similares de Teresa da Gregória; a loja dos Barretos; a loja de Manuel Godinho.
- Aqui na rua 9 de Abril estava instalado o Mercado Municipal onde existiam 3 talhos, a saber: O talho de Constantino Arranhado; o talho do Costa; o talho de Victor Ferro (Tranca Ruas). No mercado também havia duas bancas de venda de peixe: José Piti e Idalina do Costa.
- Na zona da Praça da República e ruas próximas: A loja do Galego; a loja de Rodrigo Ramalho (Rodrigo da Maneta); a loja de Luís Valadas (Luís dos Cortiços); a farmácia; a loja de Manuel Timóteo (loja do Quico), nesta loja vendia-se o jornal o Século e tinham um ajudante que vendia esses jornais pelas ruas e fazia recados e outros serviços do género. Nesta Praça, na esquina com a rua de S. Bento existia a sapataria de Domingos Ilhéu.
- Havia também uma papelaria, a Papelaria do Carvalho que vendia artigos de papelaria e os jornais, vendiam petróleo a granel e o proprietário era também o dono das bombas de gasolina existente na Praça da República.
- Na Rua da Cruz: A loja de Manuel Mendonça (Loja do “Paralta”); a loja de Hermes do Rosário (loja do Hermes ou da vizinha Chica do Hermes).
- Na rua do Alcance: A loja Nova (loja do Marcos Fradinho)
Era nestes comércios que as pessoas se “aviavam”de quase tudo o que lhes fazia falta, mais ou menos semanalmente porque normalmente era quando recebiam a sua jorna. Estas lojas também serviam de apoio às famílias mais necessitadas fornecendo produtos de 1ª necessidade, sabendo que por vezes era muito difícil a algumas famílias o respectivo pagamento. A necessidade de quem precisava era muitas das vezes atenuada desta maneira. Enfim tempos que ficaram para trás e que esperamos não voltem mais, embora o período que estamos a atravessar não augure nada de bom, esperamos que nunca atinja os níveis que outros tempos atingiu.


CANTEIROS E CALCETEIROS


Naquele tempo, a pedra era uma das “riquezas” que Mourão possuía. Abundava e abunda o xisto e na zona dos olivais para o lado do Guadiana havia também alguns afloramentos de granito que os canteiros aproveitavam para produzir pedras destinadas à construção e ao pavimento de ruas. Qualquer destes trabalhos, canteiro e calceteiro, pela sua posição de trabalho, eram profissões de enorme dificuldade de execução sendo por isso que os seus executantes eram poucos e as pessoas não queriam aprender esse ofício. De qualquer das maneiras, seriam as seguintes pessoas:
- Mestre Manuel Palma residente na Travessa dos Pinheiros
- Mestre Vicente Palma residente também na Travessa dos Pinheiros
- Mestre José Vicente Ramalho residente na Rua D. Manuel I
- Mestre José da Luz residente na Rua Mouzinho de Albuquerque
. Mestre Manuel Palhinhas, residente na Rua D. Manuel I
Nestes ramos de actividade e neste período tenho mais dificuldade em indicar as pessoas que ainda trabalhavam, porque uma parte do tempo era passada no campo e eu ainda não percorria os locais, onde estes artífices trabalhavam.

AGRICULTURA E PECUÁRIA
PECUÁRIA
VACARIAS EM MOURÃO


Em Mourão e no período em que eu já era nascido e que me lembre existiam algumas vacarias e em que os proprietários, ou trabalhador por conta, vendiam o leite na própria vacaria ou pela rua. Pela rua os leiteiros carregavam o leite em cântaro de zinco e os quartilhos das medidas em alumínio, 1 litro, ½ litro e ¼ de litro num artefacto em forma de cone preparado para o efeito em chapa de zinco.
- Na Zona do castelo havia: a vacaria de Braulio Amaral; a vacaria do Velho Ganhão…
- Na travessa da Muralha existiam mais duas vacarias: A vacaria de Pedro Bação; a vacaria de Eleutério Fernandes…
- Havia para a travessa dos Currais: a vacaria de Firmino Passinhas
Havia ainda uma pessoa ou outra que tinham uma ou duas vacas e que também faziam a venda de leite na própria casa. Neste caso, era uma forma de complementar os parcos rendimentos para ultrapassar as dificuldades da vida.
ADUA COMUNITÁRIA
Dentro do ramo agrícola dedicado aos animais funcionava ainda ao fim da travessa dos Currais com o Rossio, a ADUA COMUNITÁRIA que consistia no ajuntamento dos animais de cada pessoa em particular. Quando o gado estava todo reunido o Moiral, naquela altura o Joaquim Ferreira, encarregado desses animais, levava-os todos a pastar em terrenos do Município, sendo que à tarde, depois de chegarem ao local de encontro, regressavam todos os animais para os quintais dos seus donos sozinhos. Pela manhã repetia-se a mesma situação de todos os dias.
Era uma situação digna de admirar. Embora os animais saíssem em grupos consoante os locais para onde iam, cada um, sem engano, quando chegava ao local, deixava o grupo e dirigia-se para onde se situavam as suas instalações de recolha.
Este sistema representava a maneira que as pessoas tinham para a designada “fartura da casa”, que eram, a matança do porco, dos borregos e dos cabritos que eram sacrificados para a alimentação das famílias que tinham esses animais a pastar na “ADUA”.
AGRICULTURA
Nas fazendas, pequenas propriedades, tapadas, ferragiais, vinhas, olivais e courelas, em volta de Mourão, eram exploradas pelos pequenos e médios seareiros. Era uma agricultura familiar e de subsistência. Ocupavam alguma mão de obra, em trabalhos sazonais e apenas quando a produção era mais avultada.
Todas as possibilidades de governar a vida eram exploradas e valorizadas. A situação para muitos era dramática e tudo o que pudesse dar algum rendimento era de aproveitar e em conjunto com o trabalho no campo sobrevivia-se com muita dificuldade. A apanha e secagem de passas de figo, amêndoa, uvas, e outros produtos, constituíam também uma boa fonte de rendimentos que as pessoas, com poucos recursos, aproveitavam para reforçar os seus rendimentos.
Os restantes trabalhadores, eram mão de obra que os proprietários das grandes herdades dispunham conforme a necessidade, uns “concertados” que normalmente viviam no monte ou junto a ele, outros em trabalhos sazonais. Para fazer face ao custo de vida os trabalhadores rurais tinham necessidade de no Verão trabalharem em empreitadas de ceifas, e no inverno em empreitadas de apanha de azeitonas porque permitiam jornas mais avultadas para ajudar nas despesas familiares que eram muitas. Este sistema não permitia aos assalariados uma fonte segura de rendimentos pelo que a sua vida não era muito fácil, motivo pelo qual muitos deles optaram pela emigração ou procuraram uma vida mais estável em zonas onde o emprego era mais abundante.
APOIO AOS AGRICULTORES
Para auxílio aos agricultores, Mourão dispunha de uma cooperativa, a Cooperativa Agrícola de Mourão, que prestava auxílio aos agricultores e associados através do fornecimento de sementes, adubos ferragens e ferramentas. Mais tarde também através da prestação de serviços inerentes à agricultura. Também recolhia algumas colheitas dos associados e vendia a compradores já selecionados, clientes habituais dos diversos produtos recepcionados pela cooperativa.
As sementes, recolhidas nas ceifas e posterior debulha, eram entregues nos celeiros do FNPT, Federação Nacional dos Produtores de Trigo que em Mourão estavam localizados em diversos pontos da povoação. Durante uma boa parte do Verão a azáfama era enorme em ver grandes cargas de sementes a serem descarregadas manualmente nos celeiros existentes na povoação.
A transferência daquelas sementes, para os grandes silos ou outras instalações onde eram armazenadas, para consumo ou tratadas para voltarem a ser semeadas, eram feitas através de camiões de grande capacidade que as transportavam para aqueles locais de destino.


Sem comentários:

Enviar um comentário