BREVE
RESENHA HISTÓRICA
Desconhecem-se as origens da
primitiva Vila de Mourão, Vila Velha, apenas se sabe que se situava junto do
Rio Guadiana, local onde ainda algumas dezenas de anos se encontravam vestígios
de algumas paredes.
As razões do abandono da Vila Velha
e da sua fixação, onde se situa Mourão, estão bastante intrincadas pela lenda.
Assim, poderia ter havido as seguintes causas:
a)
–
As cheias do Guadiana provocaram pestes e consequentemente grande dizimação de
pessoal;
b)
– O
aparecimento da Imagem de Nossa Senhora sobre o tojo, no actual local da Vila,
o que é lendário;
c) –
O aparecimento de uma praga de formigas que causou grandes danos à população.
Opinião mais viável, não porque existissem verdadeiramente formigas, mas sim
porque a Vila Velha ficava num baixio e quando os soldados romanos atacavam,
faziam-no em fila, o que parecia as formigas nos carreiros (interpretação
psico-sociológica).
Mourão teria recebido o seu primeiro
foral em 1226, concedido por D. Gonçalo Egas, prior dos Hospitalários, que
teria repovoado Mourão após as lutas da reconquista portuguesa e que teria sido
conquistada por D. Sancho II de Portugal; Afonso III voltou a cedê-la a Afonso
X de Castela, seu sogro, por altura de 1264, continuando, no entanto, sob a
tutela dos Hospitalários do Hospital, que irão em 10 de Agosto de 1271 dá-la em
troca a Afonso X. Teriam sido estes Hospitalários que aqui teriam construído o
primeiro castelo.
Novamente, Mourão será doado a D.
Beatriz, já viúva de Afonso III, doação que de facto só se realizou em 20 de
Outubro de 1295, em Cidade Rodrigo. No entanto, após a morte de Afonso X de
Castela, seu filho Sancho IV, contesta esta doação e irá doar Mourão e a sua
Granja (propriedade agrícola) à sua amante D. Teresa Gil, no período de
1285-1288.
Em 1288, na Igreja do Espírito Santo
de Sevilha, em recompensa do auxílio de D. Dinis, na luta contra Afonso X de
Castela, Sancho IV de Castela renuncia à margem esquerda do Guadiana e, em
1296, temos Mourão definitivamente integrada no território português, altura em
que D. Dinis concede o primeiro foral conhecido (27 de Janeiro de 1296).
Em 15 de Julho de 1298, no encontro
entre a comitiva portuguesa e a espanhola, onde se encontraram D. Dinis e a
Rainha viúva de Sancho IV de Castela, D. Dinis reconhece, de jure, D. Teresa
Gil como senhora de Mourão e que a após a sua morte (1307 - ?) passaria a sua
posse para a coroa portuguesa.
Após a morte de D. Teresa Gil, D.
Dinis vai conceder a Raimundo de Cardona (nobre de alta estirpe que veio refugiar-se
em Portugal) o privilégio de comprar Mourão; para o efeito pediu a D. Judas
(judeu) um empréstimo, facto que ocorreu em 19 de Abril de 1313.
Todavia, D. Raimundo de Cardona não
consegue pagar a dívida e Mourão é leiloado em 19 de Abril de 1317 no alpendre
da Igreja de Nossa Senhora do Tojal, sendo arrematado por Martim Silvestre,
célebre mercador de Monsaraz, por 11.000 libras. No entanto, D. Dinis irá,
logo, obrigar este mercador a vender-lhe Mourão pelo mesmo preço que o
adquiriu.
Durante o período da crise da
Independência de 1383-1385, Mourão irá tomar o partido do Mestre de Avis.
Como consequência destas escaramuças
e da célebre peste negra, sabemos que em 27 de Fevereiro de 1450, Mourão é uma
zona despovoada pelo que os homens bons do Concelho pedem a Afonso V que Mourão
seja um Couto para Cinquenta Homiziados, dado que está numa zona fronteiriça.
Pensa-se que rapidamente repovoou,
pois em 1 de Julho de 1510, D. Manuel I concede-lhe novo foral, onde se pode
verificar um certo desenvolvimento da vila bem como da fronteira.
É assim que em 1527 (censo de D.
João III) encontramos em Mourão 305 fogos (1373 habitantes = 305 x 4,5 pessoas
por fogo); 48 em S. Leonardo (216 habitantes = 48 x 4,5) Granja com 93 fogos
(419 habitantes = 93 x 4,5) e no limite da aldeia 8 fogos (40 habitantes = 8 x
4,5). Por aqui mais uma vez se pode concluir que a aldeia da Luz ainda não
existia.
Temos mais uma prova do
desenvolvimento de Mourão, pois que em 9 de Fevereiro de 1573, data da visita
de D. Sebastião a Mourão e ao Alentejo numa acção de arranjar tropas e
apoiantes para a sua 1ª campanha africana, Mourão participa com duas bandeiras
(cerca de 400 homens), o que nos pode levar a concluir que teria cerca de 2400
habitantes (2400 = 400 x 6), mais do que actualmente.
Dado a sua importância estratégica,
Mourão irá ter um papel importantíssimo nas lutas que se viriam a travar da
Restauração da Independência.
Mourão aderiu “à Monarquia Dualista,
em 1580, pela voz do seu alcaide-mor Francisco de Mendonça, da família dos
Mendonças Furtados que já governaram a vila em 1488.
A mancha que este facto fez cair em
tão ilustre família, bem depressa foi lavada pelo próprio filho de Francisco de
Mendonça, Pedro de Mendonça Furtado, herdeiro da alcaidaria de Mourão, quando
passados quase 60 anos, Portugal conspirava para se tornar de novo
independente.
Pedro de Mendonça, amigo intimo do
Duque de Bragança, foi dos primeiros conspiradores, com Antão Vaz de Almada e
Jorge e Francisco Melo. Foi ele o emissário dos conjurados, indo expressamente
a Vila Viçosa para convencer o Duque de Bragança a aceitar a Coroa de Portugal.
D, João não acedeu logo; mas, por fim, o alcaide-mor de Mourão conseguiu
demovê-lo. E, para não levantar suspeitas de Vila Viçosa veio a Mourão, donde
seguiu para Lisboa a levar a boa nova aos conspiradores.
O seu papel no desenrolar dos
acontecimentos foi notável: na manhã gloriosa do 1º de Dezembro lá esteve nos
aposentos de Miguel de Vasconcelos, assistiu à prisão da regente Duqesa de
Mântua, e, a seguir, partiu para Vila Viçosa com Jorge de Melo para informarem
o novo rei dos acontecimentos de Lisboa.
Na entrada de D. João IV, na
capital, Pedro de Mendonça Furtado acompanhou-o e a seu lado assistiu à
aclamação.
As escaramuças de fronteira em breve
começaram em diferentes pontos. Mourão não escapou à regra, logo em 1641, o seu
alcaide-mor, Francisco de Mendonça Furtado, que havia sucedido na alcaidaria
ainda em vida de seu pai, comandando os poucos soldados de Moura e de Mourão
(cerca de mil infantes e quarenta cavalos) assaltaram Valença, obrigando as
tropas espanholas a fugir para Oliva. A vila sofreu um duro assalto, poupando
os portugueses, no saque, apenas os lugares sagrados.
Os espanhóis que haviam começado os
ataques nesta fronteira, tiveram assim um legítimo castigo, com grande
contentamento das populações portuguesas.
Ao longo das fronteiras do Alentejo
as operações de guerrilhas continuaram, havendo assaltos de ambas as partes. De
maior monta foi o sítipo e tomada da praça de Alconchel, em 1643, pelas tropas
do comando do General Matias de Albuquerque, que as concentrava em Olivença.
Ocupada e fortificada aquela praça
espanhola, Matias de Albuquerque mandou D. Rodrigo de Castro, com seiscentos
cavalos, a reconhecer Figueira de Vargas, que se rendeu.
O exército que tomara Alconchel
partiu para a sitiar Villanueva del Fresno, povoação fronteiriça, a poucos
quilómetros de Mourão.
A vila estava bem defendida e o seu
castelo fortificado com duas peças de artilharia. Matias de Albuquerque pediu
socorro a Olivença, donde vieram dois meios canhões e munições, com os quais se
intensificou o bombardeamento do castelo.
A praça rendeu-se e, depois de evacuada,
ficaram nela tropas portuguesas, O exército retirou, destruiu ao passar o
castelo de Figueira de Vargas, o mesmo fazendo a Cheles, indo por Alconchel até
Olivença. O Inverno aproximava-se, interrompendo por isso, a campanha no
Alentejo.
(…) Esta vitória animou os comandos
espanhóis, que enviaram reforços da Catalunha para o exército do Duque de S.
German, com a finalidade de virem cercar a praça de Mourão. A praça sob o
comando do Capitão João Ferreira da Cunha, resistiu apenas durante seis dias,
apesar de ter mantimentos e munições para quatro meses, suficientes para a sua
guarnição composta por duas companhias de Infantaria e uma de Cavalaria. Porém
as muralhas eram fracas e não poderiam garantir uma longa defesa, o que a
população civil claramente via, protestando contra uma resistência inútil, que
ocasionaria uma total destruição da vila.
O comando supremo do exército do
Alentejo estava nas mãos do Conde de S. Lourenço, que ainda tentou auxiliar
Mourão, partindo para Monsaraz com tropas, na intenção de passar o Guadiana, a
esse tempo já defendido por Cavalaria e Infantaria do exército espanhol.
Baldados os esforços de socorrer
eficazmente a praça de Mourão, o Conde de S. Lourenço mandou reforçar a praça
de Moura, no receio de que o Duque de S. German tentasse ocupá-la.
A capitulação da guarnição do Castelo de
Mourão foi honrosa, o que obstou a que João Ferreira da Cunha, ao chegar à
presença do Conde de S. Lourenço, fosse preso por algum tempo.
Na corte, as notícias destes desaires,
das quedas de Olivença e Mourão, causaram profunda impressão nos ânimos da
Rainha e dos governantes, onde havia partidos que se digladiavam.
Entendeu a Rainha D. Luísa que se devia
substituir o Conde de S. Lourenço no comando do exército do Alentejo. E, para
fugir às influências dos partidos da corte, chamou a este comando Joane Mendes
de Vasconcelos, então comandante do exército de Trás-os-Montes, alheio a
facções políticas, General duro e destemido (…). “
“(…) A reconquista de Mourão impunha-se.
Esse era o desejo da rainha, a que Joane Mendes de Vasconcelos anuíra,
trabalhando para esse fim desde que chegou ao Alentejo. Nos princípios de
Outubro, ao saber-se da partida das tropas para a Catalunha e do licenciamento
de muitos milicianos, apareceu o momento azado para se tentar a posse de
Mourão.
Em Elvas ultimavam-se os preparativos
para a nova campanha. A 20 de Outubro, de madrugada, começou o exército a sair
de da praça de Elvas.
A cronologia que se segue neste
trabalho, não é a do Conde de Ericeira no “Portugal Restaurado”. Este autor
afirma que o exército saiu de Elvas a 22, o que é erro manifesto, pois o
exército chegando a Mourão na madrugada de 23, não poderia ter saído na
véspera, e, sabemos com certeza que foi a 23 a chegada, porque existia a carta
de Joane Mendes de Vasconcelos escrita de Terena para a Rainha, em 24 de
Outubro, dando a notícia.(…).”
Até que finalmente, no dia 29, o
comandante transmitiu a grande nova à rainha: Mourão tinha-se rendido. “(J. A.
Guerreiro, Mourão nos séculos XIII a XVII, Évora, 1963, páginas 43-49).
Em 1840, o Concelho de Mourão era
composto por quatro freguesias: Candeias, S. Lourenço, Granja e Luz, concelho
que irá ser extinto por decreto de 24 de Outubro de 1853, passando a fazer
parte do Concelho de Reguengos de Monsaraz, até que em 17 de Setembro de 1861
foi novamente restabelecido o Concelho de Mourão.
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