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24/04/2021

ACHEGAS PARA A HISTÓRIA MOURANENSE "CELULOSES DO GUADIANA"


 Achegas para a história Mouranense

MEMORIAL DE UMA GRANDE INDÚSTRIA
no concelho de Mourão
CELULOSES DO GUADIANA

Em meados do século XX, no início da mecanização agrícola e numa época de grande produção de trigo em todo o Alentejo (considerado o celeiro da nação), um grupo de agricultores de Évora, grandes produtores de trigo, teve conhecimento de que em Inglaterra e em França, se tinha desenvolvido uma tecnologia que permitia a utilização da palha de trigo como matéria-prima no fabrico de papel, dado o teor de celulose naquele material. Estes agricultores abastados, acreditaram que a indústria de celulose, era uma ótima oportunidade para expansão dos seus negócios, e aproveitamento do excesso de produção de palha. Uniram esforços, e decidiram construir uma fábrica em Mourão, na margem esquerda do Guadiana, devido ao facto de o fabrico de papel exigir muita água. Localizada junto à estrada e à antiga ponte, distante de Mourão cerca de uma légua.
O estudo e projeto foi da firma Profabril, e as obras de construção civil foram executadas pela firma Álvaro Ribeiro, utilizando muita mão de obra da região.os equipamentos foram fornecidos e montados pelas firmas inglesas millspaugh co, para o fabrico de papel e thrissel engineering para a produção de cartão e caixas de cartão canelado.
Estava então criada a firma CELULOSES DO GUADIANA, SARL. Equipada com moderna tecnologia, inserida numa região profundamente rural e sem gente com quaisquer conhecimentos técnicos ou experiencia no ramo, teve que contratar alguns ex-colaboradores da fábrica de Mitrena para que a fábrica começa-se a produzir em 1955.
Todavia a falta experiência da administração neste tipo de atividade, conduziu a rapidamente a empresa a uma crise, que levou à intervenção da COMPANHIA UNIÃO FABRIL (CUF) que uma após uma auditoria técnica ao equipamento, concluiu pela viabilidade da empresa e a adquiriu tendo em seguida contratado pessoal especializado.
Sabe-se que, António Caeiro Lopes, um grande agricultor mouranense, dono das herdades: Ferrarias, Canceres, Tapadinha etc. era o presidente da câmara de M

ourão (1949-1957) quando esta fábrica foi construída o seu concelho. Presumo que teve que enfrentar as reações e os protestos de alguns agrários locais, temendo que a mesma pudesse absorver muita mão obra, necessária às faunas do campo e isso pudesse vir a desestabilizar o regime de horários e o valor das “jornas” que, naquele tempo, o regime de horários e valor das jornas se espelham na seguinte citação:
«Se me lembro! Fiz duas "Máquinas, com se dizia" Uma como Alcofeiro (16$00 de sol a sol), e a segunda, ao Fagulheiro, tendo como mestre o Zé Lobo, (21$00 também de sol a sol, mas o patrão só pagava 20$00. Os outros dez tostões, para segurar o pessoal, só os pagava no fim da faina. Quem abalasse perdia-os. Infelizmente era assim. E quem levantasse a voz...é melhor nem falar».-In facebock-Francisco Manuel Neves Jordão .
No entanto, dado que a maioria dos clientes se situava acima da bacia do vale Tejo, o custo da era muito afetado pelos elevados custos de transporte a empresa optou por uma nova fabrica na zona de Lisboa, transferindo as máquinas de fabrico de cartão e o embalagens e respectivo pessoal afeto para a nova fábrica , que passou a designar-se Unidade fabril de Albarraque (1966) , situada no concelho de Sintra. Recordo que já nesta época o futuro desta fábrica em Mourão estava ameaçado pela construção da barragem do Alqueva, o que motivou a opção de algum pessoal técnico e operário se ter deslocado para Albarraque, ( eu em 1973). Tendo outros, preferido emigrar para o estrangeiro: França, Alemanha e Suissa.
O negócio continuou a expandir-se e em 1969, iniciou-se a construção de outra nova fábrica de embalagens, no lugar de Gilhabreu, no concelho de Vila do Conde, que passou a designar-se Unidade Fabril de Guilhabreu. A fábrica Mourão fabricava os papeis para estas duas unidades Fabris. Seguiram-se os melhores anos da empresa CELULOSES DO GUADIANA, que chegou a e ser a mais rentável do grupo CUF. PORTUCEL
Após o 25 de Abril de 1974, um dos sectores nacionalizados foi a indústria de celulose, na qual se incluía a empresa CELULOSES DO GUADIANA. Que foi incorporada no grupo PORTUCEL, A fábrica de papel em Mourão passou a ser designada PORTUCEL RECICLA, e as de Albarraque e de Guilhabreu PORTUCEL EMBALAGEM.
A fábrica de Mourão, principal entidade empregadora no concelho, que desde 1954 existiu quase sempre sob a ameaça de Alqueva passou a ser real, quando a Resolução do Conselho de Ministros n.º 8/96, do Governo chefiado por Cavaco Silva assume "avançar inequivocamente com o projeto" com ou sem financiamento comunitário acabou por ser totalmente desmantelada, a troco de promessas vãs, no final do século e o seu local submerso pelas águas do grande lago, por decisão do governo central.
A desmontagem de todos os equipamentos e desmantelamento edifícios, a limpeza dos resíduos que no local foram acumulados, ao longo dos 45 anos de atividade da unidade fabril, cerca de 150 mil metros cúbicos de resíduos industriais, a maior parte derivados do processo de fabricação de papel, e perto de 40 mil toneladas de lamas. e a descontaminação dos solos da unidade industrial, situada abaixo da cota do primeiro enchimento, ficou a cargo do consórcio CME/SETH. A operação foi orçamentada em 3 milhões de contos. Segundo Adérito Serrão «Com Alqueva encontrámos um pretexto para sanear do ponto de vista ambiental uma zona que está com uma carga poluente significativa, não compatível com os usos da futura albufeira nem com os do rio Guadiana»,.
Os equipamentos da fábrica foram alienados a «uma empresa tunisina», por um valor «inferior a 750 mil contos».
O desmantelamento e encerramento da unidade da Portucel Recicla (antiga CELULOSES DO GUADIANA) foi contestado a nível local, pelos trabalhadores da empresa, que chegaram a realizar um protesto à entrada da fábrica, mas também pelos autarcas de Reguengos de Monsaraz e de Mourão, Vítor Martelo e Santinha Lopes, respetivamente.
Texto: FRANCISCO CAPELAS
fonte: sit- Edia